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Artigo Sexta-feira, 18 de Março de 2016, 00:00 - A | A

18 de Março de 2016, 00h:00 - A | A

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Falta projeto político



Brasil passa por intensa turbulência. Assemelha-se a uma nau sem rumo. A teimosia de Eduardo Cunha, que insiste em permanecer no cargo, mesmo colocado no banco dos réus por dupla instância, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e o Supremo Tribunal Federal (por unanimidade dos juízes).
O Executivo assiste ao esgarçamento da base aliada e ao fracasso da política econômica. O Judiciário ocupa o proscênio da República. O juiz Sérgio Moro abusa da autoridade ao coagir depoentes, e ministros do STF dão entrevistas antecipando posturas em prováveis futuras decisões. Sou de opinião de que ministro do STF deveria, fora da corte, fazer voto de silêncio.
Os ânimos tendem a se acirrar. A oposição quer a saída de Dilma. Para colocar quem? Michel Temer? Eduardo Cunha, o terceiro na linha sucessória, caso a chapa Dilma-Temer sofra impeachment? Temo que o Brasil passe do Estado de Direito para o Estado da Direita. Neste país, os empregos na indústria caíram de 19,3 milhões em 1979 para 12,3 milhões em 2015, enquanto a população cresceu de 225 milhões para 321 milhões.

Quando um casal perde a perspectiva de um projeto comum, a relação azeda. E se inicia a troca de acusações

O PT teve muitos acertos, mas também cometeu muitos erros em 12 anos de governo. Não promoveu reforma estrutural, nem politizou a nação. E suas promíscuas alianças políticas o levaram a enredar-se no Mensalão e no Petrolão. Teima, no entanto, em não fazer autocrítica, como lamentou Olívio Dutra em recente entrevista a Roberto D’Ávila, e se recusa a apresentar um projeto consistente para o Brasil.
Quando um casal perde a perspectiva de um projeto comum, a dois, a relação azeda. E se inicia a troca de cobranças e acusações. O racional cede lugar ao emocional. O mesmo acontece quando uma nação carece de visão histórica e acredita que o futuro melhor depende de salvadores da pátria, e não de projetos políticos. Já vimos este ‘filme’ no Brasil, intitulado ‘O caçador de marajás’.
Se Lula, como jararaca acuada, decidiu dar o bote e antecipar sua campanha eleitoral de 2018, basta se dar conta de que é o fundador e presidente de honra do partido que governa o Brasil. Dilma foi eleita para governar segundo o programa do PT. Antes que o Brasil afunde, convém tirar esse programa da gaveta (aquele que se propagou na campanha eleitoral de 2014 e levou Dilma à vitória), evitar o estelionato eleitoral e a presidente mostrar a que veio nesses próximos três anos que lhe cabe governar o Brasil.

Frei Betto é autor de ‘O que a vida me ensinou’ (Saraiva)

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