Helson França | Seduc-MT
A ausência de som ao redor, companhia sempre presente na vida de Aghata Santos, fez com que ela, desde cedo, percebesse a comunicação de uma maneira diferenciada. Nascida surda, notou, ao longo dos anos, que faltava compreensão da sociedade, em geral, para as pessoas em situação como a sua. De natureza sociável e com a família por perto, não se deixou abater.
Teve dificuldades para se alfabetizar. Somente no ensino médio foi que pôde contar com a ajuda de um intérprete. Concluiu os estudos e passou a investir no aprendizado da Linguagem Brasileira dos Sinais (Libras). Sentiu que tinha facilidade para ensinar e decidiu que seria educadora de nível superior.
Pedagoga desde 2014, após concluir a graduação a distância pela Uninter, Aghatta, atualmente com 29 anos, é uma das professoras do Centro de Apoio e Suporte à Inclusão (Casies) do Estado de Mato Grosso, onde ensina Libras a crianças, jovens e adultos surdos. Ela também trabalha na educação dos não surdos, ensinando a linguagem dos sinais para pessoas de pelo menos sete cursos da Universidade de Várzea Grande (Univag), além de atender instituições como o Tribunal de Justiça e Ministério Público.
“Fico muito feliz em dar essa contribuição à sociedade. Como professora, poder ajudar, sobretudo, àqueles que, como eu, tinha dificuldades para se expressar e se relacionar com as pessoas, é extremamente gratificante. Ao mesmo tempo, é muito bom educar e sensibilizar os não surdos. É preciso diminuir as distâncias”, afirma.
Mais madura e independente, Aghatta diz que no dia a dia ainda enfrenta situações desagradáveis que envolvem falhas de comunicação. “Quando preciso ir ao banco é sempre um problema”, reclama, sem perder o bom humor.
Ela, contudo, reconhece alguns avanços e cita, por exemplo, a criação da Central de Intérpretes de Libras, a primeira de Mato Grosso - em funcionamento desde setembro do ano passado -, como sendo um deles. Situada no Ganha Tempo, a Central oferece profissionais para acompanhar, diariamente, até 20 pessoas com deficiência auditiva, em diversos casos.
Agatha também enumera o trabalho do Casies como sendo fundamental, não só para as pessoas com deficiência auditiva, como também para aqueles que necessitam de algum outro tipo de educação especial.
“No Casies se desenvolvem várias atividades importantes para a pessoa com deficiência. Espero que o espaço possa continuar crescendo. Eu e os demais professores queremos levar o conhecimento da educação especial para mais e mais pessoas”, conta.
Censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 9,7 milhões de brasileiros possuem deficência auditiva, o que representa 5,1% da população. Deste total cerca de 2 milhões possuem a deficiência auditiva severa (1,7 milhões têm grande dificuldade para ouvir e 344,2 mil são surdos), e 7,5 milhões apresentam alguma dificuldade auditiva. No que se refere a idade, cerca de 1 milhão de deficientes auditivos são crianças e jovens até 19 anos. O censo também revelou que o maior número de deficientes auditivos, cerca de 6,7 milhões, estão concentrados nas áreas urbanas.
Em 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi reconhecida pela Lei 10.436 como a segunda língua oficial do Brasil e regulamentada pelo Decreto 5.626 de 2006.