por Eduardo Rocha
Auto Press
Todo fabricante de automóvel quer que os consumidores olhem seus modelos com outros olhos. Mais especificamente: que atribuam um valor adicional à sua marca. Para isso, antes é preciso oferecer status, com a ideia de luxo, tecnologia e qualidade. E é exatamente esse conceito que o Blazer EV vende. E de forma tão explícita que até tira a importância da tradição de marca generalista da Chevrolet. Outro aspecto que ajuda nesse sentido é o preço. Atualmente, o modelo está sendo oferecido por salgados R$ 495.790. Obviamente, é um valor que espanta os fregueses habituais da marca e posiciona o modelo em um nicho bem apertado – tanto que em quatro meses de mercado, foram apenas 105 unidades emplacadas. Mas é o preço a pagar quando se busca atuar em um segmento de luxo.
O modelo desembarcou no Brasil em setembro passado com a missão de modernizar e valorizar a imagem da marca estadunidense. Tanto que se dispôs a colocar seu novo SUV em confronto com BMW iX3 e Porsche Macan elétrico, que custam R$ 520 mil e R$ 560 mil. Mas a verdadeira rivalidade do Blazer EV será com o Ford Mustang Mach-E, que custa R$ 486 mil e que nesse intervalo de tempo, de outubro de 2024 até janeiro deste ano, vendeu apenas 32 unidades. Seja como for, o Blazer EV é um modelo de vitrine, e não de venda. E como uma boa vitrine de tecnologia, a versão oferecida no Brasil, a RS, tem um bom recheio.
Ele traz a parafernália habitual em um carro de R$ 500 mil: recursos ADAS, teto solar panorâmico, acabamento de alta qualidade, com couro sintético e Sued (um tipo de camurça sintética), tampa do porta-malas de acionamento elétrico, seis airbags, sistema de som da Bose, iluminação full led, rodas de 21 polegadas, etc. Mas o que diferencia mesmo o Blazer EV são detalhes como conjunto de telas para painel e central multimídia com 11 e 17,7 polegadas, que faz o interior parecer com o de uma espaçonave. Ainda tem aquecimento para todos os bancos e ventilação para os dianteiros, espelho interno por câmera, alerta de segurança por vibração no banco, etc. Um dos pontos que a Chevrolet destaca são os serviços conectados do Google built-in, com aplicativos Google Assistance, Google Maps e Google Play. O sistema inclui diversos aplicativos internos, como GPS, Spotfy etc, e não espelha celulares. Nem mesmo os operacionais Android. O modelo conta ainda com o sistema OnStar e o app myChevrolet, que permite acionar diversas funções do carro remotamente, através de um celular.
A versão escolhida para o Brasil tem tração e motor traseiros, que rende 347 cv de potência e 44,9 kgfm de torque, controla por uma transmissão de marcha única com inversor de fase. O conjunto é alimentado por um conjunto de baterias Ultium com 102 kWh de capacidade, o que rende uma autonomia de 481 km pelos padrões do InMetro. Ela é capaz de suportar até 22 kWh em corrente alternada e 190 kWh em corrente contínua – o que permitiria recuperar de 10 a 80% da carca em 40 minutos.
Ponto a ponto
Desempenho – Como costuma acontecer com modelos elétricos de alta gama, as acelerações e retomadas do Blazer são daquelas de colar as costas no encosto do banco. O SUV traz tração e motor elétrico traseiros com 347 cv e 44,9 kgfm de torque, suficientes para movimentar com uma sensação de leveza os 2.495 kg do modelo. São números bastante condizentes com a proposta de requinte e esportividade da Chevrolet modelo. Tanto que o zero a 100 km/h em 5,8 segundos rivaliza com modelos de marca de luxo, com uma relação peso/potência de 7,2 kg/cv. A máxima limitada a 190 km/h é uma questão de bom senso. O modelo traz modos de condução e gradação na frenagem regenerativa que pertimem uma boa interação com o condutor. Nota 9.
Estabilidade – A suspensão do Blazer é rígida, até para controlar suas 2,5 toneladas. Ainda assim, filtra bem os pequenos desníveis da pavimentação, embora não se dê tão em piso muito irregulares, como de paralelepípedo. Apesar da designação oficial de SUV, tem uma pegada de crossover, com ótimo controle de direção e total ausência de flutuação em velocidades mais alta. O centro de gravidade rebaixado dá uma ótima capacidade de contornar curvas – característica insuspeita pelo porte do modelo. Nota 9.
Interatividade – Todas as informações imagináveis ficam disponíveis nas duas enormes telas integradas no console frontal: a de 11 polegadas, para o painel de instrumentos e dados do computador de bordo, e outra de 17,7 polegadas, para central multimídia e as configurações de cada função do veículo. O Blazer usa um sistema operacional da Google built-in nativo, que é potente, mas não se conecta por Android Auto ou Apple CarPlay. Todos os aplicativos são usados diretamente no sistema. O modelo conta com head-up display e volante multifuncional completo. Ele tem ainda três modos de condução e dois níveis de frenagem regenerativa. Nota 10
Consumo – Pelos dados do Programa de Etiquetagem Veicular, o Blazer é o crossover médio-grande 100% elétrico com consumo moderado, com média de consumo de 34,2 km por litro equivalente na cidade e 30,4 km/le na estrada. Comparado aos modelos com quem concorre, ele consome 0,63 Mj/km, contra 0,69 do Ford Mustang Mach-E, que tem o mesmo porte, e 0,61 do Porsche Macan e 0,59 do BMW iX3, que são ligeiramente menores. A autonomia de 481 km é a melhor de todos. Nota 9.
Conforto – Embora a suspensão do Blazer seja firme, ela consegue absorver bem as irregularidades e oferece um conforto a bordo capaz de impressionar, tanto pelo espaço quanto pela ergonomia e maciez dos bancos. O isolamento acústico é excelente, o ar condicionado tem duas zonas de temperatura e a qualidade do som Bose. Nota 9.
Tecnologia – A plataforma do Blazer é a GM BEV3, de 2022, compartilhada com a Equinox EV e com modelos da Cadillac, Buick, Acura e Honda. Ela carrega as baterias Ultium, que entrou no lugar do problemático sistema da LG. O crossover também traz diversos recursos ADAS, recursos ADAS como alerta de colisão com frenagem autônoma, controle de cruzeiro adaptativo, alertas de faixa, de ponto cego e de tráfego traseiro cruzado. Ficaram faltando os sensores dianteiros ou mesmo uma câmera 360º, que seriam bastante úteis em um carro de porte tão avantajado. Nota 9.
Habitabilidade – O Blazer conta com um entre-eixos de 3,09 metros e uma boa altura, de 1,65 m e a generosa largura de 1,92 m. Essas medidas, por si só, já geram um espaço acima da média, mesmo entre SUVs grandes. O espaço para quem vai na frente é ótimo e atrás é espantoso: três adultos viajam bem, sem espremer os ombros. Já o porta-malas é correto, com 436 litros. Nota 9.
Acabamento – O acabamento do Blazer EV vai ao encontro da ideia de refinar a imagem da Chevrolet. Os materiais, texturas e composições são de ótima qualidade. Há até um certo abuso no uso de acrílicos em preto brilhante, tanto interna quanto externamente. No caso da versão RS, a ideia é apimentar um pouco o visual, o que acontece como os pespontos vermelhos no revestimento em couro e nas saídas de ar, que ficam parecendo turbinas incandescentes. Tudo pensado e realizado com capricho. Nota 9.
Design – As linhas sinuosas e orgânicas da Blazer fazem com o que o SUV seja notado por onde passa. A linha de cintura forma uma onda que percorre toda a lateral do modelo e empresta uma ideia de arrojo e esportividade. A frente traz diversas linhas horizontais que valoriza tanto a já avantajada largura do modelo que passa a impressão de ser um crossover baixo, apenas de ter 1,65 metro de altura. As lanternas traseira, com três pontas, e a vigia traseira estreita reforçam essa impressão. Em suma: as linhas são modernas, ousadas e originais, mas com bom equilíbrio nos volumes. Nota 10.
Custo/benefício – A Chevrolet definiu o preço do Blazer de olho em rivais como Mustang Mach-E, Macan elétrico e iX3, todos em torno dos R$ 500 mil. Ele é bem equipado, potente e atraente, mas não oferece um bom custo/benefício. Nota 6.
Total – O Chevrolet Blazer EV somou 89 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Equilíbrio absoluto
A Chevrolet quis imprimir no Blazer EV a ideia de alta tecnologia. E o carro tem, de fato, diversos elementos que ressaltam essa ideia. Para começar, ao abrir a porta, o condutor é recebido por um console de duas telas integradas que forma um conjunto digno de uma nave espacial. O painel de instrumentos tem 11 polegadas enquanto a tela de central multimídia conta com 17,7 polegadas. Não é preciso acionar nada. Basta entrar com a chave e o já está pronto para andar.
Ou quase: uma nova diretriz da GM só permite que a marcha seja engatada se o cinto de segurança dos ocupantes estiver afivelado - o Equinox turbo também tem esse protocolo. Uma vez liberado, o cinto pode até ser desatado que o carro continua funcionando normalmente. E é isso que pode gerar um pequeno contratempo: se for entregue a um manobrista, ele vai conduzir até a vaga. Mas se não prestar atenção ao discreto aviso que aparece no painel, o carro certamente vai demorar bastante quando for pedido de volta.
Em condições normais, o Blazer é um carro que chama a atenção tanto de quem está dentro quanto de quem está fora. O interior tem um espaço capaz de arrancar elogios de quem entra pela primeira vez. Além da boa altura da cabine, com direito a teto panorâmico, há muito espaço na largura e no comprimento (são 3,09 metros de entre-eixos). É também notável o revestimento de bancos, console e painéis, em couro sintético combinado com Sued e arrematado com costuras vermelhas. Eles se combinam com detalhes em acrílico preto brilhante com detalhes em vermelho e em cromado. E o silêncio a bordo é total.
Passada a admiração inicial, é hora de colocar o Blazer em movimento. E aí ele é capaz de gerar mais admiração. A direção é precisa, leve e bastante comunicativa. Contrariando a tendência de muitos carros elétricos, o SUV da Chevrolet optou por criar canais de interação entre carro e condutor. Ele traz três modos de condução: Normal, Esportivo e Neve, que modificam a entrega de potência nas rodas. É possível ainda estabelecer o nível de atuação da frenagem regenerativa, entre não ter resistência à rolagem quando se alivia o acelerador até o ponto da condução one pedal, com máxima frenagem regenerativa. Mas o melhor é o recurso do Regen on Demand, ou regeneração sob demanda, comandada por uma palheta no lado esquerdo do volante. Quando acionada, ela intensifica a frenagem e permite uma interação mais dosada com o condutor. O que vira um bom recurso numa direção mais agressiva.
Outro ponto que ajuda a dar um ar esportivo ao Blazer é a estabilidade. E vai além do que o simples rebaixamento do centro de gravidade por conta dos quase 600 kg de bateria no piso, pois tem um conjunto de suspensão bem sofisticado, com braços sobrepostos na frente e multilink atrás. Obviamente, o ajuste é mais rígido do que se espera em um utilitário, mas a verdade é que o modelo da Chevrolet está mais para um crossover de luxo que para um SUV. E o desempenho é coerente com a proposta refinada do carro. Zero a 100 km/h em 5,8 segundos e independentemente da velocidade inicial, as retomadas são para lá de vigorosas.
Ficha Técnica
Chevrolet Blazer EV RS
Motor: Elétrico, traseiro, síncrono por corrente alternada de ímã permanente. Alimentado por um conjunto de bateria Ultium, de íons de lítio, com capacidade de 102 kWh. Controle eletrônico de aceleração.
Transmissão: Por engrenagem de relação única com inversor de fase para a ré. Tração traseira e controle eletrônico de tração de série.
Potência: 347 cv.
Torque máximo: 44,9 kgfm.
Suspensão: Dianteira independente com braços sobrepostos com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais. Traseira independente multilink com barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais. Oferece controle eletrônico de estabilidade de série.
Pneus: 275/45 R21 e estepe com kit de reparo.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS com EBD e frenagem automática de emergência. Sistema regenerativo de energia.
Aceleração 0-100 km/h: 5,8 segundos.
Velocidade máxima: 190 km/h
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. Comprimento de 4,88 metros com 1,98 m de largura, 1,65 m de altura e 3,09 m de entre-eixos. Possui airbags frontais, laterais e de cabeça de série.
Peso: 2.495 kg.
Capacidade do porta-malas: 436 litros.
Autonomia: 481 km na norma InMetro.
Lançamento no Brasil: 2024.
Produção: Ramos Arizpe, estado de Coahuila de Zaragoza, México.
Preço: R$ 495.790.