por Geraldo Bessa TV Press
Muito além de entretenimento, Malu Galli acredita que a visibilidade da televisão pode ser usada para levantar bandeiras e gerar boas discussões. No ar como a Meire de “Renascer”, a atriz enxergou essa possibilidade no convite para participar da novela. Na trama adaptada por Bruno Luperi, Meire é a mãe de Buba, papel de Gabriela Medeiros. Extremamente religiosa, a personagem tem dificuldades em aceitar que a filha é uma mulher trans.
“A dramaturgia tem o poder de tocar a mente e o coração do público. É um tema muito importante e que está sendo tratado com o cuidado que merece. São cenas pesadas, violentas mesmo e que, infelizmente, são um recorte da realidade das pessoas trans”, avalia Malu.
Natural do Rio de Janeiro, Malu por muitos anos se dedicou apenas ao teatro e ao cinema. Embora tenha feito pequenas participações no vídeo em tramas como “Pátria Minha” e “Andando nas Nuvens”, ela considera a minissérie “Queridos Amigos”, de 2008, como sua estreia de verdade na tevê.
“Foi a primeira vez que eu realmente estava em cena e integrada ao enredo e ao elenco. Tudo naquela minissérie foi incrível e passei a sentir prazer em fazer televisão”, conta. Apesar da estreia tardia, em pouco tempo, Malu se tornou um nome disputado na Globo, trabalhando com diferentes diretores e autores em produções como “Cheias de Charme”, “Império”, “Totalmente Demais” e “Amor de Mãe”.
Foi a primeira vez que eu realmente estava em cena e integrada ao enredo e ao elenco
“Corri atrás do tempo perdido. Fiz grandes amizades e sinto muito orgulho dessa relação que venho construindo com as novelas e séries”, avalia a atriz de 52 anos.
P – Você entrou em “Renascer” para viver Meire, uma personagem que não existiu na primeira versão. Como foi esse convite? R – Não teve muito segredo e tempo. Recebi uma ligação da produtora de elenco da novela, a Marcela Bergamo. Achei o papel interessante, principalmente, o contexto das cenas e toda a discussão que o tema suscita. A Meira é mãe da Buba, uma personagem muito icônica da obra.
P – Como a Meire agrega ao enredo de “Renascer”?
R – Acho que ela ajuda a contar melhor a história da Buba. Meire é uma mulher de vida simples, muito religiosa e que não entende, nem aceita a questão essencial da filha. Ela não se permite amar e acolher a Buba. Isso é muito triste e, infelizmente, a realidade em muitos lares brasileiros.
P – Essa conexão com a realidade facilitou na hora de construir a personagem?
R – Muito. As referências estão por toda parte. Somos o país que mais mata pessoas trans no mundo, um recorde de intolerância, ódio e ignorância. A inspiração está no cotidiano, infelizmente. Além disso, junto com o Guilherme (Fontes) e a Gabriela (Medeiros), fizemos leituras, dinâmicas e rodas de conversa com o Jefferson Miranda, preparador do elenco da trama, o que me deixou mais segura em cena. São sequências que exigem muita entrega.
P – Em que sentido?
R – São cenas muito intensas e algumas bem violentas do ponto de vista do que é dito. Foi bem forte vivenciar tudo aquilo, muito emocionante. Acho de extrema importância levar esta discussão à casa da família brasileira através da dramaturgia. Acho que muitos vão se identificar e torço para que as sequências contribuam para mexer com alguém, e quem sabe promover alguns reencontros.
P – Além da participação especial em “Renascer”, você também está na reprise de “Cheias de Charme”. Como é rever a Lígia 12 anos depois?
R – É um prazer. “Cheias de Charme” foi uma novela que só me deu alegrias e até hoje repercute, seduz o público. Foi um grande acerto dos novelistas Izabel de Oliveira e Filipe Miguez e da diretora Denise Saraceni. É um daqueles trabalhos que realmente me orgulho de ter participado. Além disso, mostra como fiz coisas diferentes na tevê nos últimos anos. “Renascer” - de segunda a sábado, às 21h.