Alfredo da Mota Menezes
Apareceram vídeos e informações diversas de conversas e atitudes de agentes do governo passado sobre golpe de estado. A Polícia Federal encontrou sinais sobre isso também em celulares apreendidos. Tudo começou com a denúncia de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Se tivesse ocorrido uma estultice dessa, o país estaria numa situação complicada. É comum dizer que o Brasil tem algo como 30 por cento da população com pensamento mais para a esquerda.
E que, desse total, existe um percentual que topa brigar mesmo, ir para confronto para defender seus pontos de vista. Confronto interno iria fatalmente prejudicar a economia com reflexos em outros setores da vida social. Ninguém vai acreditar que tendo ditadura, de esquerda ou direita, a economia vai deslanchar porque não se teria oposição ao sistema. A coisa não funciona assim no mundo real.
E ainda se teria o olhar enviesado de países do exterior, principalmente da Europa e dos EUA. No golpe de 1964, prova a história, os EUA ajudaram a derrubar governo eleito no Brasil para se criar uma ditadura militar. Sem querer justificar nada é preciso contextualizar os dois momentos. Lá atrás o mundo vivia o confronto na chamada Guerra Fria.
Ninguém vai acreditar que tendo ditadura, de esquerda ou direita, a economia vai deslanchar porque não se teria oposição ao sistema
De um lado, os EUA e do outro a União Soviética, cada um querendo ir mais longe com suas ideias e conceitos. Na América Latina, depois da chamada crise dos misseis em 1962, a coisa complicou mais ainda contra a esquerda. A crise foi quando os EUA descobrem que os russos estavam colocando misseis em Cuba.
Quase houve um confronto nuclear entre as duas superpotências. Chegaram a um acordo: os EUA não invadiriam Cuba, deixava ali um governo de esquerda, aliás, o único da América Latina que foi até o fim, mas seriam retirados os misseis. A partir dali, os EUA endurecem sua politica para a região e vai dar suporta a inúmeros golpes de estados ou governos antidemocráticos.
Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Peru, Equador, toda a América Central e Caribe, exceção a Cuba, com governos de direita e com as forças armadas de cada país no controle. Havia uma “aceitação” dessa situação anômala. Mais tarde, aos poucos, foram voltando os governos democráticos eleitos, em que a maioria decide o destino do país e não uma potência de fora. Hoje, se houvesse o tal golpe de estado, com quem que o Brasil iria contar no plano internacional? Ninguém da Europa e menos ainda o grande incentivador de antes, os EUA.
O país seria um quase pária na sociedade de nações no mundo e um mau exemplo para outros lugares. O pior, voltando a esse tópico, seria o confronto interno entre lados da política até mesmo armado. Como que a maior economia da América Latina iria passar por isso? Com que suporte de fora? Gostaria de saber também como o regime iria enfrentar as conversas e critica da mídia social, coisa que não havia antes. Sabe de uma coisa? Foi até bom ter acontecido essa manifestação de gentes do governo anterior. Golpe do estado hoje no Brasil, depois dessa palhaçada, ficou desmoralizado para sempre.
Alfredo da Mota Menezes é professor e analista político