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+Saúde Quarta-feira, 13 de Novembro de 2024, 09:58 - A | A

13 de Novembro de 2024, 09h:58 - A | A

+Saúde / saúde mental masculina

Machismo e preconceito colaboram para alta taxa de mortes de homens com câncer de próstata

Machismo leva ao adiamento de diagnósticos, perpetuando ciclo de negação e procrastinação do cuidado médico



O movimento global Movember reforça como a saúde mental masculina pode interferir no combate ao câncer de próstata e testículo. Lucas Benevides, psiquiatra e professor de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), alerta sobre o impacto fisiológico e psicológico do estigma em torno da masculinidade no diagnóstico e o tratamento de doenças - que pode prolongar o sofrimento e elevar as taxas de mortalidade. 

 A cultura de honra, marcada pela valorização da força e da autossuficiência, é um obstáculo. Segundo Benevides, muitos homens evitam consultar médicos de todas as especialidades ou realizar exames preventivos, pois consideram que isso os torna vulneráveis ou frágeis.

"Essa relutância está enraizada no machismo, que valoriza o autocontrole e a resistência física. A mentalidade dificulta que eles aceitem procedimentos de rastreamento, o que é alarmante em relação ao câncer de próstata, uma das doenças que mais matam homens no Brasil", destaca. Essa barreira emocional se agrava por envolver o exame de toque, que “carrega um peso simbólico por ser considerado uma invasão à identidade masculina". No entanto, a falta de diagnóstico precoce significa um custo alto para a saúde do homem.

“Quando o câncer de próstata é detectado nos estágios iniciais, as chances de sucesso no tratamento são muito maiores. Mas a resistência com os exames preventivos atrasa o diagnóstico, o que pode levar a piores desfechos clínicos e comprometer a qualidade de vida dos pacientes".  

Outro fator preocupante é o medo de que o tratamento do câncer de próstata comprometa a função sexual. No entanto, o psiquiatra alerta para o impacto psicológico dessa decisão: "A percepção de que o tratamento pode afetar a virilidade é uma das principais razões para a recusa ao diagnóstico. A ideia de masculinidade está, muitas vezes, intimamente ligada à sexualidade, o que faz com que muitos homens prefiram correr o risco de complicações graves a encarar um tratamento que eles associam a uma ameaça à sua identidade masculina". De acordo com Lucas Benevides, o medo sentido pelo homem também leva a altos níveis de ansiedade e estresse antes dos exames, o que contribui para o adiamento do diagnóstico, perpetua o ciclo de negação e procrastinação do cuidado médico.

Campanhas que promovem a prevenção do câncer de próstata e abordam temas de saúde mental masculina ajudam a superar esse estigma, sendo os apoios psiquiátrico e psicológico indispensáveis.  O psiquiatra sugere que psicólogos adotem abordagens terapêuticas específicas para ajudar homens a lidar com o impacto psicológico do tratamento, especialmente no que tange à função sexual.  

"Quebrar tabus em torno da masculinidade é mais do que uma questão de redefinição cultural: é um ato necessário para promover uma saúde mais inclusiva e prolongar a vida daqueles que hesitam em buscar o cuidado de que tanto precisam”, arremata o professor.    

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