Reportagem
Mato Grosso do Norte
Armazenamento e aumento de custos são as principais dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais na colheita de soja da safra 2024/2025. Se a seca causou o atraso do plantio, agora as chuvas intensas impactam na colheita, causando umidade nos grãos e aumento de fungos.
Mesmo estabilizada atualmente, essa foi a colheita de soja mais lenta dos últimos quatro anos, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento. A umidade excessiva e os períodos nublados afetam não apenas o peso dos grãos, mas também comprometem a qualidade e a produtividade da colheita.
O diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Diego Bertuol, pontuou que os produtores enfrentam dificuldade para chegar aos armazéns, já que estradas ficam intrafegáveis com grandes filas de caminhões e cargas não sendo recebidas por causa do alto teor de umidade.
"É preocupante, ainda mais sabendo que o produtor paga mais de R$ 3 bilhões entre soja e milho de Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), que seria para o propósito dessas estradas. Ainda vemos a precariedade e necessidade de trazer mais desses recursos para regiões onde estão começando esses trabalhos", ressaltou.
O mofo branco é uma das doenças que tem gerado grandes preocupações, pois, se não controlada, pode dizimar a plantação rapidamente. Para tentar combater o problema, o produtor tem aplicado cerca de quatro sacos de fungicida por hectare, mas o excesso de umidade tem dificultado a eficácia dos tratamentos, tornando os fungicidas caros e pouco eficientes.
Os grãos que chegam aos armazéns com avarias estão sujeitos a grandes descontos no mercado, e os produtores que optam por armazenar a soja em fazendas enfrentam a dificuldade de manter esses grãos por longos períodos, o que pode acarretar em novas perdas financeiras.
O diretor administrativo da Aprosoja afirma que os armazéns que o estado possui hoje já não conseguem suportar a demanda.
A capacidade estática de armazenagem no estado em 2024, estimada pela Conab, é de 50,82 milhões de toneladas de grãos. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), esse número corresponde a um déficit de 35,40 milhões de toneladas, se comparado com a produção de soja e milho na safra 2023/2024, que juntas totalizaram 86,22 milhões de toneladas.
Segundo o superintendente do Imea, Cleiton Gauer, não há um número oficial de armazéns em Mato Grosso, mas o ideal seria que houvessem espaços capazes de armazenar, no mínimo, a produção anual de uma região para que o produtor se sinta seguro.
"Em caso de dificuldade logística ou um problema comercial que impacte drasticamente o mercado local, mais armazéns dariam segurança e o produtor teria onde armazenar essa produção. Temos cerca de metade da capacidade, o que é ruim, considerando que o produtor precisa processar tudo o que é produzido e escoar a produção para dar vazão à segunda safra", analisou.
Segundo o climatologista e doutor em meteorologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, o atraso das chuvas em época de plantio da soja ocorre desde 2019 e já era esperado pelos especialistas. No entanto, fenômenos como o El Niño contribuíram para essa desestabilização climática.