POR CAROLINE BORGES
TV PRESS
Ana Lúcia Torre ostenta mais de quatro décadas de bons serviços prestados às artes. Conhecedora de cada detalhe e canto dos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, a veterana atriz não ignora a ansiedade e a inquietação antes de estrear em um novo trabalho. Por isso mesmo, ao pisar pela primeira vez no “set” de “Travessia”, Ana Lúcia rapidamente identificou o nervosismo habitual pelo início de uma nova jornada diante das câmeras. “Esse frio na barriga não morre nunca. Não importa quanto anos de carreira eu tenha. Cada trabalho é uma jornada nova. A gente encara novos personagens e novas personalidades. O texto da Gloria (Perez) me ajudou muito a ficar mais à vontade no meu primeiro dia em estúdio”, conta Ana Lúcia, que vive a sensível Tia Cotinha.
Na atual novela das nove da Globo, Cotinha é tia de Helô, Leonor e Guida, interpretadas por Giovanna Antonelli, Vanessa Giácomo e Alessandra Negrini. É na casa dela que as três sobrinhas tentam manter algum contato, nem sempre cordial. “Ela é tia de um trio explosivo (risos). A Cotinha conhece muito bem cada uma das três. Gosto porque, ao mesmo tempo que é acolhedora, ela é incisiva e com opiniões autênticas e fortes. Não passa a mão na cabeça de ninguém”, defende.
P – Recentemente, você esteve no elenco de “Quanto Mais Vida, Melhor!”, que foi gravada no período mais agudo da pandemia. Estava nos seus planos voltar ao ar em tão pouco tempo?
R – Sim, era uma chance muito boa de retornar ao vídeo. Depois de tantos anos de carreira, eu nunca tinha trabalhado ao lado da Gloria. É minha primeira vez trabalhando com um texto dela e está sendo uma alegria, né? A Tia Cotinha é uma personagem muito boa porque ela é incisiva e vai direto ao ponto. É aquele tipo de personagem que está sempre trazendo os outros para a realidade.
P – No entanto, quando o convite para a novela chegou, você estava em cartaz no teatro com a peça “Longa Jornada Noite Adentro”. Você precisou fazer alguma adaptação em sua agenda para integrar o elenco do folhetim?
R – A gente interrompeu a temporada, mas essa parada já estava prevista de qualquer forma. Vamos voltar com a temporada em maio, no Rio de Janeiro. Porém, por conta da reta final da peça, eu não consegui fazer a preparação com o elenco. Fiz sozinha em casa, mas sempre tendo toda a assessoria da direção e da Gloria quando tinha alguma dúvida. Achei um pouco complicado trabalhar sozinha. Acho, inclusive, que isso aumentou minha sensação de frio na barriga antes de iniciar um projeto.
P – Como assim?
R – A gente sempre carrega um friozinho na barriga, né? Não importa se você tem muito tempo de estrada. Cada trabalho é um personagem e, principalmente, uma personalidade diferente a qual você precisa dar voz. Sempre tem aquele clima de primeiro dia de aula. O texto da Gloria me ajudou muito. É um texto que fico muito à vontade. Tudo escrito de uma forma tão gostosa. É um texto muito fácil de falar e decorar. Uma linguagem macia.
P – Ao conhecer mais da história da Tia Cotinha, o que mais chamou sua atenção na trama da personagem?
R – Acho que o fato dela ser tão acolhedora. É engraçado porque ela tem limites próprios muito fortes. Não é uma tia fofinha. Claro que não maltrata ninguém. Mas ela fala um monte, alerta quando a cilada está próxima. Ela não passa a mão na cabeça, mas não é uma pessoa desagradável. Ela acolhe e está sempre mediando esse trio explosivo do sobrinhas.
P – Recentemente, você esteve no ar nas reprises de “Verdades Secretas” e “O Cravo e a Rosa”. Você tem o costume de rever seus trabalhos antigos?
R – Sim. Estava, inclusive, adorando rever “Verdades Secretas”. Tenho ótimas lembranças. Fizemos uma teledramaturgia muito ousada. No início estávamos bem apreensivos de como isso seria recebido pelo público. O que me foi mais gratificante foi ver como o público entrou de cabeça nessa novela, apoiou e comentou o tempo inteiro. Eu era muito abordada nas ruas, e sou uma pessoa que sai pelo entorno da minha casa. Eu converso com a funcionária da lavanderia, costumo bater altos papos com os caixas de supermercado, com o sapateiro, tenho esse hábito de conversar com as pessoas. E essa foi a minha grande surpresa: como todo mundo embarcou nessa trama.
“Travessia” – De segunda a sábado, às 21h30, na Globo.