José Vieira do Nascimento
Mesmo a Programação da República tendo sido estabelecida através de um golpe que derrubou a Monarquia, não há como não reconhecer o papel crucial do marechal Deodoro da Fonseca [presidente do Governo Provisório e primeiro presidente da República], Benjamin Constant e outros arautos que fizeram parte do movimento republicano, como um marco histórico na política brasileira.
Na história oficial, a nossa República Federativa foi conquistada pela bravura desses heróis do século 19, que na memorável data de 15 de novembro de 1889, impuseram um ponto final, após quase 50 anos, do 2º Reinado de dom Pedro II. No entanto, historiadores [a exemplo do jornalista Laurentino Gomes, em sua trilogia 1808, 1822 e 1889] fazem um relato, digamos, menos heroico deste momento da história brasileira. E com bem menos glamour.
D acordo com vários historiadores, a Programação foi uma conspiração que ensejou no golpe sobre o Império, um sistema que não se sustentava mais. Exaurido, estava com o prazo de validade vencido e a qualquer momento poderia desabar. Por isto, foi fácil tomar o poder!
Os dois principais personagens desta história, de um lado o marechal Deodoro da Fonseca e, de outro, dom Pedro II [destronado], foram descritos na versão oficial, bem diferentes de como realmente estavam. Ambos, além de idosos para a média de idade da época, estavam bastantes adoentados. Tanto que morreram pouco tempo depois. Dom Pedro morreu em Paris, dois anos após a Programação, em 1891 aos 66 anos.
Exaurido, estava com o prazo de validade vencido e a qualquer momento poderia desabar. Por isto, foi fácil tomar o poder!
Já Deodoro, que sem querer tirar seu mérito, fez um governo medíocre e renunciou por livre e espontânea pressão em 23 de novembro de 1891. Morreu em 23 de agosto de 1892 aos 65 anos.
A República é um sistema antigo, surgido em Roma na Idade Média, antes de Cristo. Passou por hiatos de adormecimento, mas jamais foi esquecida. Resiliente, sempre ressurgia em configurações diferentes do que é atualmente. Se fortaleceu no século 18 através do Positivismo do filósofo francês, Auguste Comte, um radical que serviu de inspiração para os republicanos brasileiros.
Após 4 décadas, era mesmo o momento de o Brasil virar a página e iniciar um novo capítulo de sua história. No final do século XIX, a Monarquia era um regime em declínio e a implantação da República nos países Europeus e nos Estados Unidos, inspiravam as Forças Armadas brasileiras, integrada por republicanos.
Todavia, no olhar de alguns historiadores, os republicanos, que não enfrentaram nenhuma resistência para controlar a governança do país, foram tremendamente, injustos com a família Imperial. Dom Pedro II, um rei velho e doente, foi tratado com desrespeito e vilipêndio.
De forma ultrajante, foi jogado em um navio junto com sua família, e deportado para a Europa. Tudo isto sem fazer qualquer reação para tentar se manter no poder. Um extremismo desnecessário! Entre os republicanos, houve até quem propôs fuzilar a família real.
Em um contexto histórico, Dom Pedro II, que nasceu e viveu no Brasil, foi um brasileiro que serviu ao seu país. Muito mais admirável do que seu pai, Dom Pero I, que dedicava quase que a totalidade de seu tempo, com as mulheres, ainda hoje considerado o maior “pegador” da história do Brasil.
Era pouco seletivo. O Regente pegava desde as escravas, até as senhoras da elite de sua época. A Marquesa de Santos [Domitila de Castro] foi apenas mais uma. Deixou, ao morrer aos 35 anos, uma prole numerosa de mais de 200 filhos.
Já Dom Pedro II foi um homem magnânimo. Muito culto, gentil e educado. Nos 49 anos de seu governo, as instituições funcionavam. Logicamente, era uma outra realidade esta fase contemporânea. Mas o Brasil avançou para conquistas importantes.
Humanista, foi em seu Reinado que, gradativamente, o Brasil encerrou o ciclo mais vergonhoso e longo de sua história, que foi a escravidão. Em 1850 foi assinada a Lei Eusébio de Queiróz, que proibiu o tráfego de negros do país. Em 1885, a lei do Sexagenário determinou a libertação de escravos a partir dos 60 anos. Em 1871, a Lei do Ventre Livre, determinou que as mulheres escravas dariam luz à bebês livres.
E, por conseguinte, a grande conquista, que marcou o Segundo Reinado foi a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888, que determinou a abolição da escravidão no Brasil. Portanto, com todo respeito a Deodoro da Fonseca, Dom Pedro II foi enorme brasileiro, injustiçado pelos Republicanos. E que merece um lugar de destaque na história!