Reportagem
Mato Grosso do Norte
Famílias dizem que foram abandonadas em assentamento destinado à reforma agrária, localizado em Nova Guarita, e que sofrem constantes ameaças, perseguições e ataques. Relatam que foram assentadas regularmente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 12 famílias que vivem em um assentamento rural em Nova Guarita, a 100 Km de Alta Floresta, denunciam as constantes ameaças, perseguições e ataques sofridos por fazendeiros da região.
Duas representantes dos assentados, com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT) relataram na terça-feira, 25, que foram registrados 396 documentos, entre denúncias e boletins de ocorrências contra os crimes, nos últimos 10 anos.
Nessa área da União, denominada Gleba Gama, moram 30 pessoas que foram beneficiadas com programa de reforma agrária. O assentamento de 409 hectares faz divisa com fazendas em Nova Guarita.
A última ameaça sofrida pelas famílias, segundo as representantes, ocorreu na segunda-feira, 24. Peões da propriedade vizinha ameaçaram uma criança de 10 anos e a impediram de transitar pela região. Na semana passada, outro morador havia sido agredido por essas mesmas pessoas. Eles usaram cordas para agredir a vítima em uma emboscada.
As famílias ocupam a terra, alvo de disputa, há mais de 10 anos. Para se sustentar, elas produzem verduras e legumes na terra e vendem pampamento e o Incra nos colocou nesse local, temos documentos que comprovam e temos autorização para ocuparmos os hectares”, disse uma assentada que não quis se identificar.
Morador da gleba foi agredido com cordas na semana passada.
As famílias dizem que já tiveram casas incendiadas, barracos alvejados por tiros, plantações destruídas e tentativas de assassinato.
“Essa criança de 10 anos estava andando e foi abordada por três peões da fazenda. Fizeram ele voltar, impedindo ele de andar pela região. Na semana passada um de nós foi agredido com uma corda”, declarou outra trabalhadora.
O caso mais grave ocorreu em 2013. As famílias afirmam que uma aeronave pulverizou agrotóxico sobre elas. Um fazendeiro foi preso naquela época e solto no mesmo dia após pagar fiança.
“Quando passaram esse veneno sobre nós, ficamos seis meses sem comercializar as verduras, passamos mal e fomos parar no hospital. O piloto chegou a perguntar quem eram aquelas pessoas e eles [fazendeiros] disseram que era um povo curioso, que queria apenas ver o avião voando”, lembrou.
Em outra ocasião, os assentados encontraram uma cruz fixada na terra, como forma de intimidação por parte dos fazendeiros. Algumas pessoas que moram na gleba também foram ameaçadas de morte.
“A gente não sabe se vai acordar no outro dia. Eu já tive a casa queimada. Um dia disseram que tínhamos que sair da área e quando fomos para a cidade e retornamos minha casa tinha sido queimada”, afirmou uma assentada.
As famílias dizem que não podem instalar cercas em determinados pontos da área ou cultivarem frutas e verduras, pois os funcionários das fazendas destroem a cerca e os alimentos.
“O sentimento é de impunidade, acho que a Justiça está cega, ou não existe Justiça no Brasil. Se fosse o contrário, se nós fossemos lá e cortássemos a cerca deles [fazendeiros]? Já estaríamos presos”, argumentou a mulher.
Alguns moradores do assentamento se reuniram com autoridades e governo para cobrar medidas em relação à situação da gleba. Elas dizem que ficaram ainda mais amedrontadas após a chacina que ocorreu no dia 19 de abril em Colniza. Nove trabalhadores rurais foram assassinados no distrito de Taquaruçu do Norte. Eles foram torturados e mortos em um suposto conflito por terra e a suspeita é que os mandantes do crime sejam fazendeiros da região.