José Vieira do Nascimento
Editor Mato Grosso do Norte
Os temas de Saneamento básico e Meio Ambiente passaram a ser uma agenda de discussão dos povos indígenas das etnias Kayabi, Munduruku e Apiaká, que moram em aldeias localizadas as margens do rio Teles Pires, nas áreas de impactos das usinas hidrelétricas, Teles Pires e São Manoel.
A necessidade de preservação dos recursos naturais da fauna, flora e hídricos, após as alterações causadas pela construção das hidrelétricas, despertaram os povos indígenas para a necessidade de um debate que apontem mecanismo e conhecimento de preservação ambiental.
Os povos indígenas querem aprender o que fazer com o lixo produzido nas aldeias e encontrar uma forma de destiná-lo sem causar impacto ao Meio Ambiente, embora o problema não seja de simples solução.
Até a pouco tempo, a palavra saneamento era um termo desconhecido para a população indígena. Porém, com a mudança de cenário e a nova realidade das aldeias, os índios entenderam que, preservando o Meio ambiente estarão preservando os meios de continuarem vivendo em seu habitat.
O professor Vitor Hugo Cantarelli, que trabalha na Naturae, empresa contratada pela São Manoel Energia para desenvolver um programa de preservação ambiental e Manejo de Quelônios no rio Teles Pires, avalia que os povos indígenas terão que aprender uma nova forma de se relacionar com o Meio Ambiente.
E foi com esta preocupação, que na primeira semana do mês de junho, professores indígenas das etnias Kayabi, Munduruku e Apiaká, participaram de um curso realizado em parceria entre a São Manoel Energia e a Uniflor [Faculdade de Alta Floresta], voltado para o tema ambiental. Vitor Hugo está à frente de um programa de Educação ambiental a ser desenvolvidos com as comunidades indígenas nos próximos 42 meses.
Além de ensinar o manejo dos Quelônios [tracajás] que devido ao consumo desordenados dos índios está em processo de extinção, o programa também está ensinando a população indígena a conviver harmoniosamente com o Meio Ambiente e aprender a respeitar os ciclos naturais. “Estamos acompanhando para ver a consciência ambiental que eles tem, e trabalhando as escolas para a comunidade construir uma mentalidade, diferente do que se tem hoje”, observa.
Nas aldeias não há coleta de lixo. Na maioria delas é feito um buraco no solo onde o lixo é enterrado, e há tipos de lixo que são queimados. Ele conta que em apenas algumas aldeia existem banheiros para as necessidades fisiológicas, assim como água encanada. E não há uma destinação correta para o lixo produzido. “Passamos dificuldades quando estamos em algumas aldeias porque não há sanitários, apenas uma ‘cazinha’ cercada nas proximidades onde são feitas as necessidades fisiológicas”, conta Vitor.
O professor Ismael Hay, acentua que a sociedade indígena tem consciência que esta questão causa impacto ambiental e há necessidade de uma solução.
Durante o curso realizado na Uniflor, segundo ele, a coleta de lixo nas aldeias foi um dos temas muito discutidos. “Uma das alternativas que discutimos é as usinas Teles Pires e São Manoel se responsabilizarem pela coleta do lixo. Recolher e trazer para a destinação certa na cidade. Esses lixos que são enterrados causam um grande impacto, uma vez que traz prejuízo ao Meio Ambiente e poluição. Esse lixo acaba chegando ao rio”, enfatiza.
“Nós, professores, orientamos muito nossos alunos, para que estas práticas não aconteçam. Mas com todos os cuidados que possamos ter, a situação acaba saindo de controle. Sabemos que parte deste lixo vai para o rio, até mesmo porque não tem coleta nas comunidades”, pontua o professor.