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Política Segunda-feira, 11 de Abril de 2022, 10:08 - A | A

11 de Abril de 2022, 10h:08 - A | A

Política / Entrevista Sandra Mello

Todas as Unidades precisam de reformas e faltam equipamentos e agentes de Saúde

Em entrevista ao jornal Mato Grosso do Norte, a ex-secretária de Saúde, Sandra Mello, falou das deficiências existentes no setor, mas disse que construiu um planejamento que aponta as diretrizes do que pode ser feito para a população ter uma saúde públic



José Vieira
Mato Grosso do Norte

A ex-secretária de Saúde da prefeitura de Alta Floresta, advogada Sandra Mello, que deixou a pasta na última quinta-feira, após 10 meses no cargo, concedeu entrevista exclusiva ao jornal Mato Grosso do Norte, no sábado, 9, e discorreu sobre a deficiência do setor de saúde na Atenção Básica, que é de responsabilidade do Município e sobre o trabalho que desenvolveu.
Conforme ela, Alta Floresta está com um atraso de no mínimo 12 anos na Saúde, e que, provavelmente, em apenas um mandato [caso haja interesse de fato do poder público municipal em enfrentar a situação], não será suficiente para fazer tudo que seria necessário para o atendimento adequado da população e um funcionamento efetivo do setor.
No entanto, nestes 10 meses que passou no comando da Secretaria Municipal de Saúde, elaborou um diagnóstico do setor e construiu um planejamento que, caso seja seguido por quem ocupar o cargo, o município poderá ter uma gestão eficaz na saúde capaz de proporcionar um serviço de qualidade.
Segundo ela, o problema envolve a situação precária da estrutura física de todas as Unidades de Saúde [com exceção de uma que foi reconstruída], falta de equipamentos básicos e de profissionais, principalmente agentes de Saúde.
A ex-secretária afirma que fez uma planificação, elencando este estado de coisas, e afirma que, antes de sair, deixou ações resolutivas encaminhadas, que se forem seguidas pelo seu sucessor, estas deficiências irão sendo sanadas.
De acordo com Sandra Mello, no ano passado o município recebeu uma emenda grande para custeio e o recurso desta emenda foi separado para a reforma dos postos de Saúde e compras de equipamentos. “Acredito que tem que dar andamento com base neste estudo que deixamos nas reformas e tudo mais”, pontua.
Ela fala com ponderação sobre os motivos de sua saída da secretaria. Porém, alega que são vários motivos, mas diz que não quer falar sobre isto, porque envolve situações que não gostaria de trazer ao conhecimento público. “É muito complicado. Não quero falar sobre isso e me resguardo ao foro íntimo”, enfatiza.

Saio com a sensação do dever cumprido

Avaliação
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, Sandra assegura que a missão que lhe foi incumbida, ela conseguiu concluir com êxito, principalmente com relação a pandemia.
“As dificuldades foram grandes, principalmente com relação aos decretos, que não eram bem assimilados pela população até porque mudavam muitos devido a classificação da pandemia. E minha primeira atitude foi costurar um decreto junto com a sociedade, principalmente de uma forma para permitir o atendimento do comércio noturno que foi muito prejudicado pela pandemia e sofreu muito. E fizemos um decreto onde o comércio noturno pudesse trabalhar mesmo com as limitações”, observa.
“Saio com a sensação do dever cumprido. Entrei com dois compromissos com o prefeito. Um era controlar a pandemia e consegui dar uma resposta à população, ainda que com toda a dificuldades. Para isto, toda a equipe construiu um planejamento. E um segundo ponto era organizar esta situação da saúde no município e hoje podemos saber muitas coisas que não sabíamos, como a necessidade de contratar agentes para mapear a cidade e traçar um rumo na política de Saúde pública”, analisa Sandra.

Unidades de Saúde
Alta Floresta tem 16 Unidade de Saúde na cidade e 9 na zona rural. E fora a da Comunidade Outro Verde, que foi reformada, as demais precisam de reformas e reparos urgentes. Ela disse que deixou comprada as telhas para iniciar as reformas.
“A situação é muito precária. Faltam equipamentos, a maioria das Unidades de Saúde tem vazamentos, bolor, mofos. É bem complicada. E não chegou a esta situação do dia para a noite. Tem Unidade que chove mais dentro do que fora”, diz.
Segundo ela, todas as Unidade estão precárias, mas as mais deficientes são a da Rio Verde [zona rural]. Na cidade, a São José Operário e Cidade Alta, que estão com infiltrações e mofo. E o próprio CER [Centro Especializado em Reabilitação], entregue há pouco mais de um ano, está com problemas.
Muitas destas Unidades de Saúde que estão com estes problemas na estrutura, são obras recentes, feitas na gestão anterior. Porém, a ex-secretária avalia que o município usa projetos de referência do Ministério da Saúde, que podem não serem adequados para as estações cíclicas climáticas desta região.

Atendimento
“Quando eu assumi, os médicos faziam rodízios no atendimento, ficavam meio período em um posto e meio em outro e houve os médicos que tiveram que ser encaminhados para atender na pandemia. A primeira coisa que fiz foi a contratação de médicos. Hoje, acredito que todos os postos tem médicos. Mas há uma rotatividade grande de médicos, fecha-se hoje e três dias depois já está faltando novamente”, relata.
“Saúde se faz com equipamentos. E estamos com problemas com equipamentos. E quando digo equipamentos, me refiro no geral, desde o computador a impressora. Problemas em equipamentos simples. Falo de um estetoscópio e infantil e equipamentos básicos que faltam nas unidades.
Recentemente entregamos tablet para os agentes de saúde, para eles fazerem o cadastro do morador. Antes, faziam anotações a mão e depois na secretaria faziam o lançamento para o computar e se perdia muitos dados.
Tem que começar organizar tudo isto que está faltando. Mas falta desde limpeza com material adequado. Nossas Unidades não são limpas com materiais próprios. É uma série de situações que tem que corrigir. Não vai ser feito da noite para o dia, talvez nem nesta gestão que se resolva. Mas comecei este planejamento e acredito que vai ser levado pelo próximo gestor e terá que continuar nas gestões seguinte", observa.
"Adquirimos e entregamos cadeiras que estavam quebradas, balcão de pia das salas de dentistas, armários que faltavam, fogão, máquina de lavar roupa, balanças. É um processo que comecei, mas tem que continuar”, enfatiza acrescenta.

Agentes de saúde
O último concurso realizado pela prefeitura de Alta Floresta foi há mais de 10 anos. E Conforme a ex-secretária, tem muitos servidores que se aposentaram, outros que estão em desvio de função e não tem servidores para atender as demandas da secretaria de Saúde. 

A gestão não tem os dados da população destas áreas, de idosos, gestantes, doenças crônicas como diabetes, hipertensos e etc. nestes bairros novos. E dentro dos bairros antigos, tem 32 microáreas que estão descobertas

“Temos 32 microáreas que estão descobertas, sem ACS [Agente Comunitário de Saúde] e sem ACE [Agentes de Combate à Endemias]. E tem que fazer seletivo para contratar estes servidores para cobrir estas áreas. Isto também deixei encaminhado”, explica.
Conforme ela, a Alta Floresta tem que ser remapeada. Cada Posto de Saúde deve atender 4 mil pessoas, ou 700 famílias. No entanto, os bairros novos da cidade estão descobertos, ou seja, as famílias que habitam essas áreas não são assistidas, foram do sistema.
“A gestão não tem os dados da população destas áreas, de idosos, gestantes, doenças crônicas como diabetes, hipertensos e etc. nestes bairros novos. E dentro dos bairros antigos, tem 32 microáreas que estão descobertas. As equipes já catalogaram no município, 54 mil pessoas. Mas nas áreas já mapeadas, temos 32 descobertas. E não temos como levar atendimento a esta população porque não temos as informações. Só teremos esses dados com os agentes indo em cada casa, registrando essas famílias. E isto que está faltando, não temos este diagnóstico para direcionar as ações”, explica.
“Hoje o município tem aproximadamente, 75 mil habitantes, se só temos 54 mil mapeadas, estou dizendo que o restante desta população está sem este atendimento”, pontua.

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