por Geraldo Bessa TV Press
A risada farta e a voz grave de Solange Couto combinam muito bem com as personagens divertidas e exageradas que ela acumula na tevê. Mesmo sem reclamar dos trabalhos que lhe são oferecidos, há tempos que a atriz buscava uma oportunidade de mostrar um outro tom de atuação. A busca acabou com a escalação de Solange para “Garota do Momento”, onde vive a bondosa Carmem. “Entre os anos 1980 e 1990, minhas personagens eram todas sofredoras. Quando fiz a Jura, em ‘O Clone’, as pessoas descobriram que eu sabia fazer comédia e foi o humor que pautou a segunda parte da minha carreira. A Carmem me faz olhar para trás e buscar a atriz mais densa que eu costumava ser”, ressalta.
Carioca de sotaque carregado, Solange começou a carreira como dançarina, tornando-se conhecida por participar do grupo de mulatas reunidas pelo empresário e agitador cultural Osvaldo Sargentelli. De olho na carreira de atriz, ela estreou em novelas em “Os Imigrantes”, de Benedito Ruy Barbosa, produzida pela Bandeirantes nos anos 1981 e 1982. Com passagens ainda por emissoras como Manchete, Record e Rede TV!, foi na Globo que ela teve seus personagens de maior destaque, em tramas como a primeira versão de “Renascer”, “O Clone” e “América”. Mais recentemente, Solange também marcou presença em séries de humor do Multishow, casos de “Os Suburbanos” e “No Corre”. “Amo meu ofício! São mais de quatro décadas de dedicação e ainda continuo me surpreendendo com os convites e aprendendo a cada novo trabalho”, destaca.
P – Você ficou sete anos distante das novelas. Estava com saudades? R – Muita saudade. Não fiquei parada nesse tempo, fiz diversas séries de comédia, participei de realities, mas sempre perguntava ao meu agente se tinha algum bom convite para voltar às novelas. Ao contrário de muitos atores, que acabam se afastando dos folhetins pela entrega que eles exigem, eu amo me comprometer com uma personagem por meses a fio e não ligo de esperar para gravar (risos).
P – Como assim? R – Eu gosto muito da minha arte. A televisão veio antes de qualquer coisa na minha vida e sou curiosa pelos bastidores dessa indústria até hoje. Então, quando chego ao estúdio às oito da manhã e a cena que eu iria fazer passou para as cinco da tarde, aproveito para fazer uma oficina de cenário, visitar outro estúdio, ver outro colega trabalhar. Eu curto mesmo todos os detalhes.
P – Como avalia esse retorno em “Garota do Momento”? R – A novela é belíssima. Eu li o roteiro e já fiquei encantada. Quando começaram os ensaios e as gravações, só veio a confirmação do quanto esse projeto é especial. Vi na Carmem também uma forma de mostrar um outro lado da minha atuação para o público. Ela é uma senhora de 60 anos dos anos 1950, um tipo muito carinhoso, doce, que fala baixo e tem gestos pequenos. É como uma volta ao passado.
P – Em que sentido? R – Nos primeiros 15 anos da minha carreira, fiz mulheres amorosas, feministas e sofridas. Tudo mudou com a Dona Jura de “O Clone” (2001). A personagem foi um sucesso, o bordão dela (“Não é brinquedo não”) é famoso até hoje e foi por conta de toda essa repercussão que outros diretores e autores viram que eu tinha timing para humor. A Carmem me traz esse resgate, de personagens mais emotivas e que me levam para um lugar mais silencioso.
P – Em algum momento, esse direcionamento para tipos mais exagerados e cômicos a incomodou? R – Não chegou a incomodar, pois sempre me divirto fazendo comédia e tenho um orgulho enorme da Dona Jura e das coisas que “O Clone” me proporcionou. Mas sentia falta de mostrar um pouco mais meu lado dramático no vídeo. Agora que a Carmem chegou, não tenho do que reclamar. A novela tem dilemas bonitos e amo as cenas com a Duda (Santos). Nossa conexão vem desde o teste para a novela. Foi tudo muito suave e natural.
“Garota do Momento” – Globo – de segunda a sábado, às 18h20.