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Caderno B Sexta-feira, 28 de Março de 2025, 09:04 - A | A

28 de Março de 2025, 09h:04 - A | A

Caderno B / CINCO PERGUNTAS

Novo olhar

Manuela Dias equilibra reverência e ousadia à frente do remake da icônica “Vale Tudo”



por Geraldo Bessa TV Press                

Estudiosa e dedicada, Manuela Dias é do tipo que se entrega para o trabalho. Tanto, que faz exatamente dois anos que ela respira “Vale Tudo”. De 2023, quando surgiu o convite para escrever o remake da clássica obra de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, até 2025, a novelista se debruçou sobre a trama para esmiuçar seus temas e personagens. Paralelamente, teve de lidar com muitos haters nas redes sociais e com diversas críticas antes mesmo de a novela ser exibida. Agora, com o trabalho no ar, ela acredita que pode mostrar que é possível lançar um novo olhar sobre a história e, ao mesmo tempo, manter sua essência. “Vale Tudo’ questiona a possibilidade de se dar bem no Brasil sendo honesto, uma reflexão que permanece muito atual. A novela chega para matar a saudade de tantas sequências icônicas, mas também apresenta o enredo de forma atualizada”, resume.                

Baiana de Salvador, Manuela tinha apenas sete anos quando pisou no palco de um teatro pela primeira vez. Mesmo gostando de atuar, não se sentia tão seduzida pela carreira de atriz. “Eu queria contar histórias, mas não atuando. Me formei em Jornalismo, depois em Cinema, e comecei a buscar trabalhos como roteirista”, destaca. A autora, que completa 48 anos em abril, migrou para a função de autora na tevê aos 23, depois de atuar em duas novelas: “Dona Anja”, em 1996 no SBT, e “Brida”, em 1998 na extinta Manchete. Ela começou como integrante da equipe de roteiristas do infantil “Bambuluá”, em 2000. Ao longo dos anos, ganhou experiência trabalhando em séries como “Aline” e “A Grande Família” e colaborou em tramas como “Cordel Encantado” e “Joia Rara”.                

Com um trabalho bem avaliado dentro da Globo, em 2015, acabou estreando como autora principal na adaptação do clássico “Ligações Perigosas” para o formato de microssérie. Seu status dentro da emissora, entretanto, só mudaria mesmo no ano seguinte, ao conceber a trama densa e realista da série “Justiça”, o que acabou a levando para as novelas. A estreia foi diretamente na prestigiada faixa das nove, com “Amor de Mãe”. “O bom de ter sido atriz por tanto tempo é que utilizo essa experiência para escrever pensando no ator. Faço questão de conhecer todo o elenco para escrever os diálogos pensando em cada um”, entrega.

P – O projeto de revisitar “Vale Tudo” vem sendo tocado desde meados de 2023. O que a fez aceitar o convite da Globo para escrever o remake? R – Tenho uma relação muito boa com a emissora e o convite me pareceu tentador em muitos sentidos. É da natureza das histórias que elas sejam recontadas e é uma honra e um aprendizado adaptar um texto do Gilberto Braga, do Aguinaldo Silva e da Leonor Bassères para os dias de hoje. Os remakes provocam encontros de gerações, de pessoas que viram com pessoas que não viram, e fazem a gente se repensar como sociedade.

P – Qual sua tática para manter a essência da história e também trazer um texto tão icônico para 2025? R – A base da novela original segue intacta. Além disso, mantive todos os personagens e os arcos dramáticos longos, que é o que acontece com o personagem no decorrer da trama. O que posso garantir é que quem viu a novela original vai se deliciar com os fanservices (cenas supérfluas com a única função de divertir o espectador) e as diversas homenagens e referências. Ao mesmo tempo, vai se surpreender com a nova narrativa. Os que não assistiram à primeira versão, vão ter contato com a potência dessa obra, fenômeno da dramaturgia brasileira, completamente ancorada nas tecnologias, questões éticas e conceitos dos dias de hoje.

P – Como assim? R – De 1988 para cá, passamos por um processo de letramento com o machismo, racismo e classismo. Ações com agressões contra a mulher ou uma visão debochada do alcoolismo eram totalmente normalizados. Além disso, o elenco de “Vale Tudo” só tinha dois atores pretos. Nosso olhar era tão transformado pelo racismo estrutural que a gente não conseguia enxergar essas questões de forma mais crítica.

P – A Taís Araújo assumir o papel de Raquel, que foi feito originalmente pela Regina Duarte, é uma forma de reforçar esse novo olhar? R – É uma questão de representatividade, que é um ponto central no meu trabalho como roteirista desde “Justiça” (2016). Acredito que a dramaturgia tem de servir de instrumento para a transformação social. Para mim, a Raquel sempre foi preta. Ela era branca pela nossa incapacidade social de dar o protagonismo para uma atriz preta naquele Brasil do final dos anos 1980.

P - Por que você acha que as pessoas devem assistir ao remake de “Vale Tudo”? R - “Vale Tudo” é uma novela com vontade de comunicação. Queremos esse encontro com o público. A gente vai matar a saudade não só da Maria de Fátima, da Raquel, da Odete, da Heleninha, do César, e de todos aqueles personagens maravilhosos, mas também desse folhetim, que é muito clássico. É uma novela acessível, intensa e com humor espalhado dentro da trama. Acho que as pessoas vão se emocionar e se divertir, ao mesmo tempo que são convidadas a refletir sobre questões centrais da nossa identidade nacional. 

Vale Tudo” – Globo – de segunda a sábado, às 21h.

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