por Geraldo Bessa
TV Press
Para Nicette Bruno, atuar é o que a mantém viva. Na tevê há exatos 65 anos - a estreia foi nos teleteatros da extinta Tupi -, a atriz vive um dos momentos mais produtivos da carreira. Só nos últimos meses, rodou o filme "Doidas e Santas", participou da montagem teatral de "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?" e agora se diverte com a misteriosa e "fofa" Elza de "Pega Pega". "Essa novela acontece em um momento muito oportuno. A discussão sobre ética que os personagens e a trama levantam diz muito sobre o Brasil que vivemos. Acredito no futuro do país, mas uma mudança no nosso modo de pensar é essencial", defende.
Natural de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, Nicette ostenta uma lista enorme de personagens de sucesso sem perder a ternura e a modéstia. Um dos maiores nomes dos áureos tempos das extintas Tupi e Excelsior, protagonizou clássicos como "A Gordinha", "Éramos Seis" e "Como Salvar Seu Casamento". Na Globo desde 1981, ano de "Obrigado, Doutor", Nicette construiu uma trajetória baseada na diversidade de equipes e pluralidade de personagens em sucessos como "Bebê a Bordo", "Mulheres de Areia" e nas recentes "Alma Gêmea" e "A Vida da Gente". "Não posso reclamar das oportunidades que tive e ainda tenho. Me sinto muito lisonjeada por trabalhar com uma nova geração de atores, autores e diretores. Aprendo muito com eles e posso passar algumas coisas também. A troca é muito justa", analisa.
P - Você mantém uma frequência intensa de trabalhos na tevê desde os anos 1950. Do alto de seus 84 anos, como seleciona suas personagens?
R - Tenho contrato com a Globo e deixo essa questão para os diretores de elenco. Sempre estou pronta para qualquer personagem que aparecer. Estudo e entrego o melhor de mim a cada novo trabalho. Já aconteceu de eu não gostar tanto no início, mas ir me envolvendo com a história e acabar apaixonada pela personagem (risos). O ator precisa dessa habilidade de adaptação. Nem todos os papéis serão maravilhosos, mas alguns fazem a diferença e marcam a carreira.
P - O que a Elza de "Pega Pega" agrega à sua trajetória?
R - Um pouco de mistério. Ela guarda muitos segredos, mas acaba enganando todos com seu jeito doce. Principalmente, a irmã, Prazeres (Cristina Pereira). Antigamente, a partir de uma certa idade, as novelas enquadravam as atrizes em personagens necessárias à trama, mas que não desenvolviam uma história própria. Os folhetins cresceram e hoje você precisa de boas tramas coadjuvantes para agarrar a audiência. Todo mundo ganha com isso. Os intérpretes conseguem ir além do óbvio e a novela não fica parada.
P - Você parece se divertir muito nas cenas em que divide com Cristina Pereira. A comicidade das personagens deixa o trabalho mais leve?
R - A gente ri o tempo todo. Estamos ambas contando histórias envolvendo a terceira idade e, tirando as dores cotidianas, a saudade de quem já se foi e algumas doenças, a velhice pode ser vista por um viés extremamente cômico e criativo. A sequência em que a Elza e a Prazeres aprendem a mexer em um "smartphone" foi engraçadíssima porque nós já passamos por isso fora da tevê.
P - E como é sua relação com as novas tecnologias?
R - Adoro todos esses acessórios, mas não troco uma bela ligação por uma mensagem no Whatsapp. Falando com as pessoas, eu consigo saber realmente quem está bem ou não (risos). Todos precisamos nos atualizar, meus filhos e netos só se falam dessa forma e eu não posso ficar de fora.
P - Você é testemunha ocular da evolução tecnológica das engrenagens da tevê. O que destaca como positivo e negativo neste processo?
R - Amo tanto meu trabalho que fica difícil destacar um lado ruim. Mas acho que, assim como no passado, a gente ainda espera demais para gravar. São muitos detalhes (risos). Os pontos positivos são muitos. Tudo é mais dinâmico e profissional. O HD acaba com a gente, mas a imagem como um todo fica linda! Não sou do tipo que fica vangloriando as coisas de quando era jovem. Vivo o presente e me sinto muito feliz e produtiva.
"Pega Pega" - Globo, de segunda a sábado, às 19h20.